Assumir com a luta e com o voto um inequívoco <i>Basta!</i>

Fernanda Mateus (Membro da Comissão Política)

A ge­ne­ra­li­dade dos(as) por­tu­gueses(as) está pro­fun­da­mente pre­o­cu­pada com a sua si­tu­ação e in­quieta com o sen­tido ne­ga­tivo do rumo das suas vidas e do País. Am­pliam-se os sen­ti­mentos de per­ple­xi­dade, de in­dig­nação e de re­volta pe­rante os efeitos de­vas­ta­dores das me­didas de aus­te­ri­dade que têm vindo a ser im­postas por via dos or­ça­mentos do Es­tado de 2010 e de 2011 e dos di­versos PEC que lhes estão as­so­ci­ados.

Quem tem vo­tado PS, PSD e CDS tem ra­zões para se sentir traído

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Ao mesmo tempo, cresce a cons­ci­ência de que os pro­blemas se agravam numa es­piral de­ter­mi­nada pela cres­cente pro­mis­cui­dade entre o poder eco­nó­mico e o poder po­lí­tico, pela sub­ju­gação dos «mais pe­quenos» aos mais po­de­rosos, num cír­culo que se fecha sempre no sen­tido de impor mais sa­cri­fí­cios a quem tra­balha, de re­tirar dig­ni­dade e di­reitos a quem se re­forma após uma vida de tra­balho, de hi­po­tecar a vida e os so­nhos das novas ge­ra­ções. E não é para menos. A re­dução dos ren­di­mentos do tra­balho e do valor das re­formas, o ele­vado de­sem­prego, a pre­ca­ri­e­dade la­boral, os cortes nos apoios e pres­ta­ções so­ciais estão a ter im­pactos de­vas­ta­dores na vida da mai­oria da po­pu­lação.

Am­pliam-se as di­fi­cul­dades das fa­mí­lias das classes tra­ba­lha­doras para res­ponder às ne­ces­si­dades do dia-a-dia, um quadro es­pe­ci­al­mente agra­vado se no seu seio exis­tirem si­tu­a­ções de idosos de­pen­dentes, ou cri­anças e jo­vens com ne­ces­si­dades es­pe­ciais. A po­breza au­menta afec­tando novos seg­mentos da po­pu­lação, com re­curso cres­cente à ajuda de fa­mi­li­ares, amigos e ins­ti­tui­ções (for­ne­ci­mento de bens ali­men­tares, re­fei­ções, roupa, li­vros es­co­lares, etc.).

Afinal, as me­didas de aus­te­ri­dade im­postas a uma «ve­lo­ci­dade de cru­zeiro», não obs­tante terem sido jus­ti­fi­cadas pelos seus men­tores e exe­cu­tores (Go­verno PS, PSD e CDS) como a so­lução para en­frentar os graves pro­blemas do País, não vi­eram me­lhorar coi­sís­sima ne­nhuma. Pelo con­trário, agra­varam os pro­blemas na­ci­o­nais, porque se su­bor­dinam aos in­te­resses do grande ca­pital e ao di­rec­tório de po­tên­cias que de­ter­minam as ori­en­ta­ções da União Eu­ro­peia.

Como agir face a esta si­tu­ação? Aqueles(as) que não se re­signam e in­tervêm em or­ga­ni­za­ções sin­di­cais e so­ciais que re­pre­sentam e de­fendem os seus di­reitos, dão sen­tido e efi­cácia à sua in­dig­nação e re­volta e força à di­mensão das lutas. Lutas que con­correm de forma de­ci­siva para alargar a cons­ci­ência de quais as causas e quem são os res­pon­sá­veis e tornar mais claro o ca­minho a se­guir para se en­con­trar a so­lução.

Aqueles(as) que afirmam que não há nada a fazer, ar­gu­men­tando que os par­tidos são «todos iguais» e que todos «querem po­leiro», são pri­si­o­neiros das «amarras» que di­a­ri­a­mente lhe são im­postas pelas mais di­versas formas pelas classes do­mi­nantes. Quem assim pensa e age ab­dica de in­tervir e co­mete um grave erro de ava­li­ação.

O certo é que as po­si­ções po­lí­ticas e as pro­postas dos di­versos par­tidos para a so­ci­e­dade e as suas po­si­ções nas ins­ti­tui­ções re­flectem os in­te­resses de classe que re­pre­sentam. E este facto de­ter­mina que muitos(as) elei­tores(as) que têm dado o seu voto, ao longo dos anos, aos par­tidos que têm as­su­mido res­pon­sa­bi­li­dades go­ver­na­tivas (PS, PSD e CDS) se sintam traídos e de­si­lu­didos, porque as pro­messas elei­to­rais não têm cor­res­pon­dência com a prá­tica po­lí­tica. Tal facto não le­gi­tima que se trans­fira este sen­ti­mento pe­na­li­zando, in­justa e in­de­vi­da­mente, forças po­lí­ticas como o PCP, que tem um pa­tri­mónio de pro­posta e de luta in­des­men­tí­veis, a força po­lí­tica que a di­reita mais teme por ser uma força que não trai nem ab­dica das suas ra­zões de luta.

 

Es­co­lher o lado certo

 

A con­vo­cação de elei­ções le­gis­la­tivas an­te­ci­padas, tendo como origem o pe­dido de de­missão do Go­verno PS/​Só­crates, a pre­texto da re­jeição do PEC4, não pode deixar de re­pre­sentar uma opor­tu­ni­dade e uma res­pon­sa­bi­li­dade de cada um(a) de fazer es­co­lhas que per­mitam tornar útil e eficaz a sua in­dig­nação e re­volta, ca­na­li­zando-as de acordo com os seus in­te­resses e di­reitos. É pre­ciso optar pelo lado certo!

Para os grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros, para as ins­tân­cias do ca­pi­ta­lismo eu­ropeu e mun­dial seria be­né­fico que os por­tu­gueses(as) caíssem no «rolo com­pressor» das so­lu­ções po­lí­ticas que, a pre­texto da re­dução do dé­fice das contas pú­blicas, im­po­nham novas me­didas de aus­te­ri­dade. Se os por­tu­gueses pac­tu­arem com as ten­ta­tivas do PS, PSD e CDS de se des­res­pon­sa­bi­li­zarem pelas po­lí­ticas que im­ple­men­taram ao longo dos anos; se con­fi­aram nas es­tra­té­gias que estes vão ur­dindo de su­postas di­fe­renças em torno da re­jeição do PEC4 – tal ati­tude só per­mi­tirá o pros­se­gui­mento da po­lí­tica de di­reita. Quem cair nesta ar­ma­dilha es­tará do lado er­rado da­quele que de­fende os seus di­reitos!

Nas pró­ximas elei­ções le­gis­la­tivas é ne­ces­sário ca­na­lizar o des­con­ten­ta­mento e a in­dig­nação para afirmar com o seu voto um inequí­voco Basta!. O apoio ao PCP e à CDU dará mais força a um ca­minho de luta que ex­prima, também pelo voto, a exi­gência de uma mu­dança pro­funda na vida na­ci­onal: li­bertar Por­tugal da po­lí­tica de di­reita e cons­truir de forma em­penha os ca­mi­nhos que dêem corpo a uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda que en­frente os di­versos dé­fices es­tru­tu­rais, aposte no de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico e so­cial e na so­be­rania na­ci­onal.



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